Biblioteca Comunitária

Thalita Rebouças

Uma noite na biblioteca

– Oba! Livro novo no pedaço. Temos que contar a história da biblioteca!

– Calma, Rapunzel. Só depois que a atividade acabar. Os leitores estão lanchando, mas sempre voltam pra pegar livros emprestados. Controle suas tranças.

– Eu sei, Cinderela. Vou terminar meu penteado e já volto. Reúna a galera pra conhecer nossos novos companheiros.

Mais tarde, naquele mesmo dia…

– Boa noite, pessoal. Como sempre fazemos quando chega personagem novo, vamos contar a história da Biblioteca Comunitária Thalita Rebouças – disse Cinderela. Bem-vinda, Menina Bonita, senhor e senhora Coelho e Mãe da Menina Bonita. No primeiro dia sempre falamos um pouco daqui. Espero que gostem.

Maria Bonita, com lindas fitas, falou em nome do grupo:

– Obrigada a todos vocês. Já nos apresentamos à maioria dos personagens. Os filhos do senhor e senhora Coelho estão dormindo, mas terão oportunidade de conhecê-los. Nossa amiga ficou maravilhada com esse lugar. Tanto que nos doou pra cá.

O Coelho de Alice chegou correndo com seu relógio de bolso:

– Desculpem o atraso. Prometo que não irá acontecer…

O grupo riu. Sabiam que velhos hábitos eram difíceis de mudar.

– Podemos começar então? – perguntou Obax, que se servia das guloseimas trazidas por Chapeuzinho.

Todos concordaram e Cinderela iniciou:

– Não podemos começar a contar uma história sem saber as origens de onde ela fica. Nos mapas o bairro é conhecido como Jardim Iara, mas segundo a história havia um senhor chamado seu Amaral, que andava de bicicleta pelo bairro, e de tão conhecido ficou o bairro que hoje leva seu nome.

Senhor Coelho balançou o focinho. – Viemos em um ônibus com esse nome. Demorou bastante até embarcar nele. No caminho parecia que estávamos em uma montanha-russa de tanto que o ônibus balançava. Vimos que o Arco Metropolitano passa por aqui.

– Sim, senhor Coelho – disse Branca de Neve, que comia uma maçã. – O ônibus demora bastante aqui e infelizmente não passa pelo Arco.

Mafalda, que ouvia com atenção, acrescentou:

– As políticas públicas ainda não são efetivas como deveriam. Fora a questão da mobilidade urbana, ainda há as condições precárias de saneamento básico e falta de escolas. A biblioteca hoje colabora para os moradores buscarem soluções e mudanças.

– Verdade, Mafalda – continuou Cinderela. – Hoje, a biblioteca é um equipamento cultural fundamental no bairro que tem muitas pessoas talentosas e lendas antigas, como a da Boca da Noite. Reza a lenda que quando a Lua estava pela metade, como uma boca, pegava as crianças e as comia.

Nesse momento Lobisomem uivou tão alto que até a Bela Adormecida, adormecida, acordou assustada.

Cinderela riu da situação e falou:

– Acho que deu pra acordar, não é verdade?

Todos riram:

– Esse espaço faz parte do Centro Comunitário de Santa Rita. Uma instituição séria, que atende a muitas famílias. Antes havia a Creche Manoel Severino, mas com o tempo as coisas mudaram e ela deixou de funcionar. A biblioteca chegou depois, com recurso vindo de um parceiro chamado Visão Mundial. O nome do projeto que trouxe alguns de nós pra cá foi Ler é Pura Diversão.

– Que bacana! – suspirou a mãe da Menina Bonita. – E o nome da biblioteca, como foi escolhido?

Cinderela fez um aceno pra Malu, que logo se manifestou:

– Em uma atividade a mediadora pediu para os leitores pensarem em um nome para a biblioteca. Naquela época os livros da minha primeira mãe, Thalita Rebouças, estavam no auge. Fala sério, mãe! Sabe que é verdade…

– Verdade, filha. Teve até campanha para escolha do nome. A disputa foi acirrada entre Monteiro Lobato e Thalita Rebouças. No fim a Thalita ganhou.

Malu continuou:

– Biblioteca montada e com nome, era hora de atender à comunidade. No início as atividades acabaram se confundindo com a escolarização. Em 2011 a biblioteca começou a trabalhar em Rede com o Polo Baixada Literária. Hoje o nome é Rede mesmo, e a equipe da biblioteca teve mais conhecimento sobre o acervo de qualidade, espaço, mediação e gestão. As coisas ficaram mais claras em relação às atividades que tinham o objetivo de estimular o gosto pela leitura.

– As pessoas que começaram esse movimento foram Mônica, Sandro, seu Valdemir, Manoel Severino, Maria Guedes, Márcia Lopes, Berenice e muitas outras pessoas importantes. Ana Maria, Natália, Marília, Amanda, Débora e Paula fizeram parte da biblioteca como mediadoras de leitura. Contavam sobre nós para os leitores, mantinham o espaço organizado e buscavam aproximar a comunidade da biblioteca. Hoje quem faz isso é a Vanessa. Ainda há os voluntários Sérgio, Celeste, Juliana, Nem, Hilza, seu Sebastião, Simone, seu Eli e Ana. Dona Fátima foi uma pessoa especial que hoje está guardada em nosso coração, como Vó Nana e Hugo.

Um grande silêncio cortou o espaço e de uma forma bem suave Chapeleiro falou:

– Há tempo para rir e pra chorar. Parte da jornada se dá pela partida do corpo, contudo a lembrança do que ela fez e representa sempre estará presente em todos nós. Alegro-me, mesmo com os olhos suados, pois Maria Eduarda, sobrinha de dona Fátima, hoje é mediadora-mirim da biblioteca. Ferdinando, que tal contar sobre as atividades da biblioteca?

– Bom. Piquenique Literário, Bingo Literário, Roda de Leitura são atividades estrelas, além dos jogos educativos. As mediadoras falavam que foram fazer o Piquenique Literário com os leitores na comunidade. Havia um boi que reparou no saco vermelho que uma das crianças levava. O boi saiu correndo atrás das crianças e das mediadoras. Mal sabem elas que o boi queria mesmo era me cumprimentar.

– Ainda há as atividades coletivas da Rede. O Ocupa Literatura é maravilhoso! – animou-se o Lobo Mau. – Tem oficinas, jogos, contação de histórias. Mal posso esperar que conheçam. Ah! Ainda existem os Saraus, em que os leitores declamam poesias e cantam.

Atentos a tudo que se falava, Menina Bonita e seus amigos sorriam.

– A biblioteca é de muita resistência. Começou e continuou. Os leitores da Biblioteca Thalita Rebouças e outros leitores das bibliotecas da Rede Baixada lançaram o livro Contos da Baixada Fluminense, lançado em 2017 na Bienal do Livro, narra o Pequeno Príncipe. – A biblioteca foi reinaugurada depois de participar em Rede da Gincana promovida por Um Pé de Biblioteca e o Instituto Cyrela. O Projeto Furnas Social contribuiu para que a biblioteca adquirir equipamentos e materiais pedagógicos. Além disso, o Conselho Gestor da Biblioteca organizou a rifa de uma cesta de beleza que arrecadou quase mil reais. Os leitores se envolveram para ajudar, e Marlon foi o que mais vendeu.

– Nossa biblioteca criou raízes no bairro. Algumas crianças chegaram com uma curiosidade especial. Não tiveram acesso aos livros antes de conhecer a biblioteca. Esse espaço transformou muitas vidas. Gestores, mediadores, voluntários. Nossas histórias contribuíram para essa história, disse à Árvore que Pensava.

– Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas – acrescentou o Pequeno Príncipe.

– E assim encerramos mais um momento de apresentação – completou Pepa. – Gostaram?

Menina Bonita e os demais fitaram, a senhora Coelho foi quem falou:

– Agradecemos esse momento e agora estamos mais que prontos. Por mais livros de histórias e bibliotecas pra encantar. Viva a biblioteca!

– Viva!

– Gente, não podemos esquecer de perguntar… – disse Cinderela.

– Perguntar o quê?, indagou a Menina.

E juntos cantaram:

— Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?

    Dados Gerais

  • Cidade e Estado: Nova Iguaçu-RJ
  • Endereço: Estrada do Amaral, 791, Bairro Amaral
  • Email: bcthalitareboucas@baixadaliteraria.org
  • Links: https://www.facebook.com/BCTHALITA/ ?>
  • Nome e perfil dos fundadores: Valdemir José da Costa - presidente; Sônia Maria Baptista - membro da Igreja Católica - Paróquia Santa Rita de Cássia (já falecida); Simone Miranda - educadora; Márcia Lopes - educadora; Manoel Severino - voluntário (já falecido).
  • Número de leitores: 1000
  • Número de livros de literatura: 3000
  • Número anual de empréstimos de livros: 1200
  • Principais atividades de mediação de leitura: Batalha Naval, Pé de Livros, Piquenique Literário, Bingo Literário e Roda de Leitura  

    Contexto da Biblioteca

  • Território no qual a biblioteca está localizada:A Biblioteca Comunitária Thalita Rebouças faz parte do Centro Comunitário de Santa Rita e integra a Rede Baixada Literária desde 2011. Ela fica em Bairro Amaral, município de Nova Iguaçu. As políticas públicas não chegam como deveriam ao bairro. O saneamento básico é precário, as ruas não são asfaltadas, as escolas públicas e privadas ficam em outros bairros. Os alunos precisam levantar bem cedo devido à demora do único ônibus que transporta os moradores. A biblioteca hoje é um espaço de referência para a comunidade.
  • Fundação da biblioteca: A biblioteca foi fundada em 20 de junho de 2010 por meio de um projeto da Visão Mundial. A escolha do nome foi feita pelos leitores da biblioteca. A maioria do público era feminino, e os livros de Thalita Rebouças estavam no auge. Os leitores até fizeram campanha para a escolha do nome.
  • Identidade da biblioteca: Vale destacar como fator especial a participação da comunidade que colabora nos processos existentes no espaço. Há um conselho gestor que participa das ações para melhoria do espaço. O público era infantil e hoje varia entre crianças e adolescentes.
  • Enraizamento comunitário: Um importante movimento que existe no espaço é o Conselho Gestor da Biblioteca, formado por colaboradores da instituição, pais e voluntários da comunidade. O Ocupa Literatura é uma atividade coletiva da Rede Baixada Literária que contribui para trazer mais pessoas da comunidade para a biblioteca.
  • Impactos sociais: A vida da biblioteca é de muita resistência. Começou e teve continuidade. Os leitores lançaram um livro fruto do conhecimento da leitura e escrita. Algumas crianças chegaram com uma curiosidade especial. Parte delas nunca teve acesso aos livros antes de conhecer a biblioteca. O espaço transformou muitas vidas.

    Personagem da Biblioteca

    Maria Eduarda é uma personagem que há muitos anos contribui com a história da Biblioteca Comunitária Thalita Rebouças. Além de leitora, é mediadora-mirim do espaço e sua colaboração nas atividades da BC se traduzem nos resultados do enraizamento comunitário no bairro.

    Em 2017, Maria Eduarda e outros leitores da Rede Baixada Literária fizeram parte do livro Contos da Baixada, publicado pela Editora Ottonelli & Santiago. Em 2018 participou do Concurso de Contos e Poesias promovido pela Mozerart Edições. O conto de Eduarda compõe o livro Contos e Encantos, lançado em 28 de abril de 2019.