Jogos, histórias e memórias
O livro o levou a um prédio fantástico onde aparentemente muitos livros se “aninhavam”.
Os Fantásticos Livros Voadores do Sr. Morris, William Joyce
Bom dia, tias!
Dia de jogos na Biblioteca Comunitária Professora Judith Lacaz. A Batalha Naval está arrumada e os leitores estão chegando. Os abraços ofertados às mediadoras Suzy e Lizandra chegam carregados de afeto. Encontro de corações apaixonados por livros, leitura, literatura e a biblioteca.
– Boa tarde, meus amores!, Suzy responde.
– Estão preparados para jogar?, Lizandra fala em seguida.
– Sim!, respondem os leitores animados.
– Qual a história de hoje tia?, Emmily pergunta.
– Então, hoje vamos conhecer a história da biblioteca, e vocês ajudarão na contação. Vamos lá! Já podem montar os dois grupos, ressalta Lizandra.
Os jogos literários são atividades de destaque na biblioteca. A Batalha Naval é bastante divertida. Os leitores logo formam dois grupos. Dez para cada lado, já observam as letras e os números. O próximo passo é escolher o nome da equipe e um grito para animar.
– Dessa vez vamos escolher autores que já vieram à nossa biblioteca para o Bate-Papo, beleza?, pede Suzy.
O primeiro grupo logo se apronta para começar:
– Mariene Lino veio aqui nos visitar, contou sua história e encantou com seu falar. Agora na Batalha ela vai nos ajudar. Mariene!
O segundo grupo logo rebate:
– Dito e Feito quem escreveu? Emanuelle Bartolomeu. Ela vai nos ajudar e nosso time vai ganhar. Emanuelle!
Suzy animada comenta:
– Arrasaram! Agora vamos lá. Todos os livros que estão na Batalha têm uma pergunta sobre a história da Biblioteca Comunitária Judith Lacaz. Cada grupo vai falar o que sabe e a gente complementa. Muita atenção, pois todas as memórias contam. Grupo da Mariene, o que já conhecem?
– A BC fica no Bairro de Ponto Chic, que também é conhecido como Novo Oriente por causa do sítio que tinha esse nome, começa Geovanna. – Ah! Estamos afastados do Centro do município.
– Isso!, Lizandra confirma: – Uma extensa área do Bairro Ponto Chiq era o sítio Novo Oriente, de propriedade da família Assumpção. Estamos em um bairro periférico, em que as políticas públicas não chegam com qualidade. Mesmo assim temos este espaço, que nasceu para contribuir com a comunidade. Sabem mais o quê?
– Minha mãe Louise falou que a biblioteca não ficava aqui, tia, diz Manu: – Começou na igreja do outro lado da rua e depois veio pra cá. Minha vovó Mônica disse que muitas pessoas ajudaram a descarregar o caminhão com os livros.
– Sim, Célia, Dona Teresinha, Edinho e outros voluntários ajudaram a descarregar o caminhão. Quem doou os livros foi a bibliotecária e professora que dá o nome da biblioteca. Judith Lacaz trouxe os livros do município de Arapeí, porque a prefeitura não deu continuidade à biblioteca de lá. Nessa época Ana Amélia, uma das fundadoras do espaço, fez contato com Judith para as coisas da biblioteca virem pra cá, confirma Suzy:
– A BC foi inaugurada no salão da Igreja Sant’ana e São Joaquim, do outro lado da rua, no dia 17 de dezembro de 2005. Nesse dia aconteceu a apresentação da peça A Bruxinha que Era Boa. Sua mãe ajudou com o registro dos livros que chegaram à biblioteca.
– De início pensou-se na brinquedoteca para empréstimo, Lizandra continua: – A formação em Biblioteconomia ajudou a organização do acervo. Todos os sábados e domingos os voluntários iam organizar a BC e gostavam do trabalho. Pesquisamos e descobrimos que Louise sumia de casa, e quando Mônica a encontrava, ela estava registrando os livros na biblioteca.
Caio, do grupo Emanulle, escuta atentamente:
– Um tempo depois a biblioteca mudou de espaço e veio pra cá. Gosto bastante daqui. Me sinto em casa…
Com olhos suados, Lizandra dá continuidade à história da BC:
– Hoje, a biblioteca tem uma nova casa, que é a Associação Comitê Ponto Chic, construída por meio da parceria com a Associação de Funcionários do Banco do Brasil e Conselho Regional de Engenharia de Nova Iguaçu. Na instituição, além da biblioteca, há o projeto Catadores Cidadãos, o grupo de costureiras Nóis do Ponto Chic, a escola de informática Estação Cidadania, um núcleo do Teatro do Oprimido e oficina de desenho artístico.
– Houve várias novidades depois da mudança – oficinas, concursos, produções -, completa Suzy: – E as coisas ficaram melhores quando a biblioteca passou a fazer parte da Rede Baixada Literária, isso em 2012. Novos títulos literários foram adquiridos e as formações sobre espaço, acervo e mediação de leitura deram cara diferente à BC.
– Ah, tia, isso é verdade! – Nathan ressalta: – O livro Contos da Baixada Fluminense é prova. Nosso livro foi lançado na Bienal em 2017, e tenho minha credencial de autor até hoje. Depois veio o Contos e Encantos.
Nathália completa:
– A produção das duas obras faz parte das ações coletivas da Rede. Elas contribuem muito com o trabalho das BCs.
– Sim, tia Nathália. Os Jogos Literários, o Sarau, o Ocupa Literatura e principalmente o Acampe Literário. Não dá pra esquecer a história sobre o fantasma do Paulo Freire, disse Ana Júlia gargalhando: – Ainda tem a Parada do Livro!
Todos se olham:
– Leitura aqui, leitura lá, leitura em qualquer lugar!, cantam ao mesmo tempo.
Incrível como os laços que envolviam os leitores eram fortes. O olhar falava mais do que muitas palavras.
– Vamos continuar?, Suzy logo se apressa: – A entrada da BC na Rede aconteceu quando Mônica Moura ficou sabendo
da Rede em um encontro na Biblioteca do Kangulo no início da formação da Rede Tecendo uma Rede de Leituras. Ela também se envolveu com a construção do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas de Nova Iguaçu. Depois que ela saiu, Louise, Isabela e eu continuamos na caminhada. Estar em Rede possibilitou maiores aprendizados, inovação das atividades e renovação do acervo.
– Muitas pessoas, além das que já foram citadas, fazem parte da história da biblioteca e contribuíram bastante para chegarmos até aqui: Ceissa, Celina Borges, Júlia Guarilha, Nathália Reis, Mônica Verdam…, e não podemos esquecer vocês, nosso queridos leitores, disse Suzy.
Andrea levanta a mão:
– Hoje tem mais crianças na biblioteca. Quando vamos à rua, uma vez por mês, divulgar a biblioteca, as pessoas gostam bastante de ouvir poesia ao Pé do Ouvido. Depois vêm à biblioteca pegar livros e participar das atividades. Ah! Antes, os pais faziam o cadastro no nome das crianças e hoje fazem em seu nome e pegam livros.
– Essas atividades permitem que as raízes da biblioteca com a comunidade se tornem mais fortes. Que a biblioteca seja reconhecida como importante equipamento cultural no bairro. Não podemos esquecer a participação da biblioteca nas festas do Arraiá da Cidadania, aqui na Associação, e as apresentações de fim de ano, acrescenta Lizandra.
– Não tem como esquecer o Ocupa Literatura, fala Geovanna: – Até as escolas do bairro vieram aqui.
– E já desenvolvemos atividades quando convidados, explica Nathália: – Viram como a história da biblioteca é rica e bonita?
– Sim, tia, Marianne responde, acho que pode virar até um livro.
– Opa! Vamos marcar o dia pra começar, Suzy se anima.
– Todos prestaram atenção à história da BC?, pergunta Lizandra.
– Sim!, gritam…
– Então vamos começar! Animação total!, falam os dois grupos.
Todos estão preparados para mais uma batalha. Esta, mais do que um jogo, envolve livros, leitura, literatura e a linda história da biblioteca que os une.
– Par. Emanuelle começa.
Cada resposta certa é motivo de animação, os tiros na água provocam explosão.
E quando o jogo termina a comemoração não está na vitória da partida, mas no reconhecimento dos leitores dentro da história que brevemente será escrita. A história da Biblioteca Comunitária Professora Judith Lacaz.