SE NÃO HÁ ESPAÇO, NÓS CIRCULAMOS!
Rita, uma jovem de cabelos cor de fogo que recém atingiu a maioridade de 18 anos, conheceu sua melhor amiga Carol há 7 anos, dois ou três anos mais velha que ela. Se conheceram quando Rita saiu da Rua da Paz, onde sua família foi desalojada e se mudaram para o bairro onde Carol morava. Juntas elas sonhavam com uma cultura viva e pulsante que representasse de verdade as pessoas e não somente a elite dominante em sua pequena cidade: Esteio – o menor município em área do Rio Grande do Sul. O problema é que ainda não sabiam como.
E o que fazer para movimentar uma cultura com a cara e a identidade das pessoas que pulsasse pela cidade? Em Esteio havia poucos espaços culturais, poucos ambientes para as crianças e jovens realizarem uma troca. Rita e Carol viveram sua adolescência nas praças da pequena cidade acompanhadas de chimarrão e risadas. Elas mesmas não tiveram essa oportunidade de vivenciar espaços culturais desde novas, somente quando puderam sair sozinhas, pegar o trem e ir para capital.
Ainda sim querem fazer diferente para a próxima geração de crianças e jovens da próxima geração. Mas como? Essa pergunta ecoava dentro delas. Carol passou um tempo morando na capital e durante esse período pode fazer um curso de Técnico em Biblioteconomia, onde em uma aula conheceu diferentes possibilidades e formatos de bibliotecas. Nesse exato momento ela se deparou com o conceito de biblioteca comunitária, e então seus olhos reluziram e um sorriso largo se formou em seu rosto.
Soube de imediato que precisava contar para sua amiga Rita, uma leitora voraz, sobre o que era uma biblioteca comunitária e compartilhou o desejo de construir um espaço desses com sua amiga. Seus olhos brilharam… Um brilho de empolgação, de emoção, de amor… Brilharam pelo desejo de transformar! As amigas se iluminaram com o espírito jovem de querer modificar o mundo ao seu redor, de querer um mundo com mais acesso à cultura para todos. O espírito da inquietude! E juntas seguiram determinadas a construir uma biblioteca comunitária.
Não foi um caminho fácil. Portas se abriram e fecharam, pessoas não muito legais tentaram desestimular elas, mas também pessoas boas vieram somar para tirar o sonho do papel. O mais lindo foi ver que mesmo com tantos desafios o brilho nos seus olhos nunca se apagou e elas não desistiram fácil.
– Sem um lugar não há como ter uma biblioteca – disse Rita, um pouco chateada depois de toparem com algumas portas fechadas.
Elas estavam sentadas no gramado de uma praça da cidade com suas bicicletas jogadas ao lado. Carol balançou a cabeça como quem diz que se recusava a desistir. Um pensamento passou por sua cabeça, mas logo desistiu de expressar porque não era bom o suficiente.
– Está bem difícil, mas não vamos desistir. – continuou Rita enquanto dava pequenos chutes no pedal da sua bicicleta.
Carol que estava encolhida se endireitou. Seus olhos brilharam como da primeira vez em que ouviu falar sobre bibliotecas comunitárias e disse: -E se… E se nossa biblioteca fosse todo lugar, fosse toda nossa pequena cidade? E se nossa biblioteca circulasse por aí?
Carol levantou, amarrou seus cabelos longos e castanhos, estendeu a mão para ajudar a amiga se levantar e deu um chutinho no pedal da bicicleta de Rita. – Vamos circular pela cidade em nossas bicicletas até encontrar o espaço ideal para acolher nossa biblioteca comunitária! O que acha, Rita? Carol poderia pular de empolgação mas se conteve. Rita não se aguentou e gritou de felicidade.
– Nossa biblioteca vai circular! – disse Rita.
E as duas amigas assim foram: Mãos à obra para construir móveis para que suas bicicletas pudessem suportar o peso e preservar os livros. Começaram uma campanha de doação de livros, assim como selecionaram e organizaram o acervo.
Sempre souberam que queriam ter como público alvo a próxima geração, o futuro da cidade: as crianças e adolescentes. Para aproximar esse público da sua biblioteca itinerante elas precisavam não somente disponibilizar muitos livros infantis e juvenis, mas também incluir as crianças no processo de construção da biblioteca. Então chamaram os pequenos para desenhar em conjunto o queria uma Biblioteca Circular e fizeram o que hoje é o logo da biblioteca – crianças de todos os jeitos em roda brincando juntas, sendo puras.
As gurias já tinham tudo. Livros, bicicletas, espaço para carregar os livros e, o principal, a vontade jovem e indomável de transformar a sua realidade! Assim Rita e Carol saem pedalando todos os dias, com cabelos ao vento e, agora, livros e literatura circulam por todos os lugares da sua pequena cidade.
Bianka Maduell