Nascida em Ibiá, Minas Gerais, em 1970, a escritora, roteirista e dramaturga Ana Maria Gonçalves é um importante nome da literatura brasileira contemporânea e uma das vozes mais atuantes do Brasil em assuntos raciais e culturais. Sua obra de maior proeminência é o romance Um defeito de cor (2006), vencedor do Casa de Las Américas, prêmio latino-americano de literatura, na categoria “melhor romance brasileiro”.
Um Defeito de Cor narra a história de Kehinde, negrinha de 8 anos capturada no Daomé (Benin), no princípio do século XX, trazida pro Brasil, rodando por Bahia, Maranhão, Santos, São Paulo, e por aí vai, nesse mundo perdido que era o Brasil. A saga de Kehinde atravessa oito décadas, mais ou menos o mesmo tempo que o negro Damião vive no romance de Josué Montello, ouvindo Os Tambores de São Luís, romance já merecidamente clássico.
Millôr Fernandes
“Um defeito de cor” (Editora Record, 2006)
Sirlene Barbosa é professora de língua portuguesa e doutoranda em Educação pela PUCSP. Carolina é sua primeira HQ. Sirlene Brabosa foi também a primeira indicada ao Jabuti de HQ por Carolina. Ela reuniu um grande material de pesquisa sobre vida e obra de Carolina de Jesus, que receberam um roteiro lindamente desenhado por João Pinheiro.
Sirlene e João mergulharam na biografia de Carolina Maria de Jesus e em sua obra mais conhecida “Quarto de Despejo”. Com um roteiro muito bem cuidado, João Pinheiro produziu imagens impactantes para esta HQ.
Carolina (Editora Veneta, 2016)
O livro O mundo no black power de Tayó conta a história de uma bela menininha de 6 anos que gosta de brincar, adora animais e se orgulha da pele e dos olhos negros, dos seus traços marcantes e, especialmente, de seu cabelo black power, que enfeita dos mais variados e criativos jeitos: com cordões, estrelas, laços e às vezes livre e vasto como o universo.
O nome Tayó, que vem do idioma africano ioruba e significa “da alegria”, espelha a forma como a garota se relaciona com todos a sua volta e com suas raízes ancestrais. Vencedora do Prêmio ProAC de Cultura Negra em 2012, a obra traz uma bela mensagem de valorização de nossas raízes culturais.
‘Tayó é uma princesinha que chega em forma de espelho para que outras princesinhas se mirem, se reconheçam e cresçam, cumprindo a única missão que nos foi dada, ao virmos viver neste planeta: a de sermos felizes.’
Oswaldo Faustino
“O mundo no black power de Tayó” (Editora Peirópolis, 2013)
Veja que belo tambor o Benedito encontrou! Benedito é uma criança que se encanta pela batida do tambor do Congado, uma festa em que as pessoas cantam e dançam com muita alegria. O tambor do Benedito não é apenas um brinquedo, é um instrumento que guarda memórias ancestrais de um povo! Você sabe o que significa “ancestral”? É tudo que se refere ao que viveu lá no passado… E é com a criação do Benedito que o escritor e ilustrador Josias Marinho nos apresenta essa manifestação que faz parte da cultura brasileira
“Benedito é um livro álbum de extrema doçura e de lindas metáforas sobre imersão cultural, sobre continuidade, ancestralidade”.
Bel Santos Mayer
“Benedito” (Editora Caramelo, 2014)
Para mim Cidinha da Silva é a principal cronista da atualidade. Ela fala absolutamente sobre todos os temas importantes que impactam nossas vidas, especialmente as vidas negras. #ParemDeNosMatar, como ela mesma disse em algum lugar, não é um pedido: é uma ordem. Leitura obrigatória para sairmos da invisibilidade ou insensibilidade à morte de pessoas negras. “Vidas Negras Importam”.
A minha crônica preferida é “Quando a palavra seca” sobre o assassinato de Cláudia. Esta crônica se encerra com as seguintes palavras:
“Perde-se o sono e não se sabe a fórmula do conforto para reencontrá-lo. Tudo perde o sentido. A vida perde a poesia. A condição humana é rebaixada a cada ação policial” (p.159)
Bel Santos Mayer
#ParemDeNosMatar (Editora Ijumaa, 2016)
Em primeira pessoa, a adolescente Kambili mostra as consequências terríveis da religiosidade fanática de seu pai, Eugene, um homem muito rico, dono de fábricas e de um jornal progressista na Nigéria. Com sua família sendo gradativamente destruída pelo comportamento violento e abusivo do seu pai, Kambili ainda se apaixonada por um padre e vive a experiência de trocar uma vida de riquezas pela simples casa da tia, professora universitária em tempos de crise.
“Hibisco Roxo” (Editora Companhia das Letras, 2003)
Nos quinze contos que enfeixam Olhos d’água, de Conceição Evaristo, a temática está relacionada às agruras diárias pelas quais passam os afro-brasileiros numa sociedade excludente como a nossa. Nessas pungentes narrativas, ainda que existam alguns protagonistas masculinos, a ênfase centra-se em personagens femininas, muitas delas figurando parcial ou totalmente nos nomes de alguns dos contos.
“Olhos D’agua” (Editora Pallas/FBN)
Em versos que retratam as inquietações, provocações, sensações, angústias e prazeres da vida pela ótica de uma mulher negra, a obra é dividida em três capítulos que dão título ao trabalho. Mel Amaro Duarte é poeta, slammer, produtora cultural e vídeomaker. Formada em comunicação social- RTV, a paulistana de 27 anos lançou seu primeiro livro, intitulado “Fragmentos Dispersos”, em 2013. Trabalha com literatura independente desde 2006 quando conheceu o movimento dos Saraus nas diversas regiões de São Paulo
“Negra Nua Crua” (Editora Ijumaa, 2015)
“Ao ler este livro, você caminhará ao lado de uma criança bela, corajosa e sensível, fortalecida por sua ancestralidade, mas que também vivencia o racismo e a discriminação. Situações fortes e presentes na infância, esses desafios são identificados pela neta de Anita – filha do Sol – e, de maneira delicada, mas com o vigor necessário, serão enfrentados por meio da cumplicidade e do conhecimento. ”
Mara Evaristo
“A Neta de Anita” (Editora Mazza, 2017)
Muito tem se falado ultimamente sobre o conceito de lugar de fala e muitas polêmicas acerca do tema têm surgido. Fazendo o questionamento de quem tem direito à voz numa sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade, o conceito se faz importante para desestabilizar as normas vigentes e trazer a importância de se pensar no rompimento de uma voz única com o objetivo de propiciar uma multiplicidade de vozes. Partindo de obras de feministas negras como Patricia Hill Collins, Grada Kilomba, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Sueli Carneiro, o livro aborda, pela perspectiva do feminismo negro, a urgência pela quebra dos silêncios instituídos explicando didaticamente o que é conceito ao mesmo tempo em que traz ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história.
“O que é lugar de fala?” (Grupo Editorial Letramento, 2017)
Organizada por Wellington de Melo com base na primeira edição, feita por Sennor Ramos, esta obra reúne os livros de Miró publicados entre 1985 e 2012, onde é possível enxergar o ritmo, a voz e o gestual performático que caracterizam sua poesia: dizCrição (2012), Quase crônico (2010),Tu tás aonde? (2007), Onde estará Norma? (2006), Pra não dizer que não falei de flúor (2004), Poemas para sentir tesão ou não (2002), Quebra a direita, segue a esquerda e vai em frente (1999), Flagrante deleito (1998), Ilusão de ética (1995), São Paulo é fogo (1987) e Quem descobriu o azul anil? (1985).
João Flávio Cordeiro da Silva, Miró, é poeta e nasceu em 1960 no Recife. Morou por muitos anos no bairro de Muribeca.Publicou diversos livros de forma independente ou com a colaboração de amigos, entre eles, Quem descobriu o azul anil? (1985), Ilusão de ética (1995), Pra não dizer que não falei de flúor (2004), DizCriação (Andararte, 2012), aDeus (2015) e O penúltimo olhar sobre as coisas (2016), ambas da Mariposa Cartonera. Tem poemas traduzidos para o francês e para o espanhol. É uma das vozes mais inventivas da poesia independente do Brasil
“Miró até agora” (Cepe Editora, 2016)