Carlos Honorato que é um dos responsáveis pela Biblioteca Comunitária Wagner Vinício (integrante da Rede Conexão Leitura e da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias) concedeu uma entrevista para o Jornal O Globo na coluna do jornalista Mauro Ventura. A repercussão dos relatos de Carlos enquanto mediador de leitura e militante em movimento de bibliotecas comunitárias emocionou muita gente e o próprio Mauro escreveu um texto em suas redes sociais falando sobre o alcance da coluna. Confira:
A gente nunca tem ideia do alcance que um texto vai ter. Por vezes escreve um post já antecipando a repercussão, e ele cai no vazio. Ou, ao contrário, faz algo despretensioso e ele viraliza.
Com as colunas do jornal é a mesma coisa. Há personagens que você tem certeza de que vão bombar e gerar muitas mensagens, mas não dão tanto ibope. E há, por outro lado, entrevistados que surpreendem pelo alcance.
Foi o caso de Carlos Honorato, coordenador de uma biblioteca comunitária em Rio das Pedras (https://oglobo.globo.com/…/dois-cafes-a-conta-com-carlos-ho…). Filho de pai analfabeto e mãe com ensino médio completo, ele tira crianças e jovens da comunidade da ociosidade e faz com que se encantem pela leitura.
Imaginei que talvez os leitores não se motivassem tanto com o tema da leitura em favela. Felizmente me enganei redondamente. Foram muitas as mensagens. A maioria oferecendo doação de livros – ele aceita de bom grado, desde que estejam em bom estado e não sejam didáticos.
Muita gente, junto com a oferta, fez elogios a Carlos: “estou muito emocionada com a entrevista”, “sinto-me imensamente gratificado com atitudes desta natureza, fez-me novamente acreditar no meu país”, “Carlos Honorato, seu trabalho é digno dos maiores elogios, não desista nunca”, “você nos faz acreditar num país melhor, você simplesmente está salvando jovens da marginalidade, receba o meu mais sincero agradecimento”, “não poderia deixar de elogiar à iniciativa do Carlos Honorato, com enorme alcance social”.
Sobrou até para mim, no bom sentido. O sucesso de Carlos fez com que os leitores enviassem várias mensagens generosas e gentis a respeito da coluna.
Carlos citou casos impressionantes de como as atividades feitas na Biblioteca Wagner Vinicio, que é parte da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias, impactam os participantes – aliás, toda a família é beneficiada. São muitas as crianças e jovens que passam o dia sozinhos, enquanto as mães estão trabalhando. Numa comunidade marcada pela violência, em que o tráfico está sempre à espreita para recrutar novos soldados, ele oferece cultura, acolhimento, afeto, reflexão, cidadania e diversão.
Nesse esforço para tornar a leitura algo mais prazeroso, o coordenador faz todo um trabalho de valorização do livro físico.
– Ganhamos uma remessa de 1.200 obras novas. Abrimos as caixas com eles, pedimos para cheirar os livros, ver a textura, observar as ilustrações, olhar as formas e as letras, sentir a espessura do papel.
Mas, nesse trabalho de democratização da leitura, Carlos sabe que, mais que competir com a internet, melhor é se aliar a ela.
– Às vezes falamos: “Peguem seus celulares, procurem uma poesia no Google e vamos ler.” Eles escolhem e perguntam: “Quem é esse autora?” Dizemos: “Procurem aí no celular sobre ela.”
Entre os leitores que me procuraram estava ninguém menos que a escritora Ana Maria Machado, da Academia Brasileira de Letras, querendo doar seus livros e saber onde ele gostaria que entregasse. Quando contei, Carlos ficou maravilhado: “Uau!”. Mais tarde me escreveu de novo: “Ainda não estou acreditando.”
Pois pode acreditar. Você merece.