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Entrevista RNBC: Mais de 40 anos formando leitores

O que há em comum entre uma biblioteca comunitária de Betim, na Grande BH, Minas Gerais e outra no Guamá, bairro de Belém do Pará?

O reconhecimento dentro e fora de suas comunidades, estarem sempre cheias de crianças e jovens e terem uma comemoração especial em abril. Essas nossas bibliotecas quarentonas fazem aniversário no mesmo mês. A de Betim é mais antiga, tem 45 anos. A de Belém completou 41.

Um filósofo indiano, nascido no Século XVIII, que pregava o trabalho social e voluntário como forma de crescimento do ser humano é a origem do nome da instituição que mantém a mais antiga biblioteca comunitária da RNBC, a Biblioteca Comunitária Ramacrisna, fundada em 1974. Sri Ramakrishna emprestou seu nome e seu ideal ao Instituto Ramacrisna, organização social de 60 anos, fundada pelo Professor Arlindo Correa da Silva, em Betim, região metropolitana de Belo Horizonte.

Para cuidar do atendimento a diferentes demandas de leitores,
 foi formado um time pequeno, porém bem preparado profissionalmente,
que junta pessoal da biblioteca e do Instituto. Cleide (coordenadora geral),
Vitória (coordenadora pedagógica), Aline (supervisora de projetos),
Luciana (coordenadora de projetos),
Gabriela (comunicação) e Lídia (publicidade)

Localizada numa cidade de perfil industrial, a biblioteca atende a um amplo leque de público: crianças e jovens de ensino médio de escolas públicas vizinhas e suas famílias, integrantes do Projeto Adolescente Aprendiz, inseridos em 115 empresas, jovens dos cursos profissionalizantes ofertados no Instituto Ramacrisna, além de moradores de 10 cidades do entorno de Betim que tem acesso ao acervo e também podem realizar empréstimos.

A amplitude do público também está presente nos esforços para manutenção da biblioteca. Aos recursos oriundos da Fábrica de Telas de Arame Ramacrisna, projeto de autossustentabilidade da instituição, se somam parcerias com diversas organizações, inclusive internacionais, empresas da região, além de editais.

Entrevistada: Solange Bottaro, vice-presidente do Instituto Ramacrisna e fundadora da biblioteca.

RNBC: O que ao longo do tempo foi determinante para a biblioteca se manter atuante e ativa?

Solange: Criamos um lugar amplo, iluminado, acolhedor, agradável, onde o leitor e a leitora são os principais atores. Desfrutar da leitura no espaço, levar livro para ler em casa e compartilhar com a família. Os leitores já estão habituados a escolher os livros a serem adquiridos junto com a coordenadora. Crianças e jovens pesquisam lançamentos, temas de interesse e indicam para aquisição.

Acredito que o se sentir parte do contexto da Biblioteca é que mantém a frequência, possibilita novos parceiros e o surgimento de ideias interessantes, que hoje tornam a Biblioteca presente muito além de suas paredes, como as atividades realizadas no jardim, embaixo das árvores.

A Mala de Leitura permite que escolas e creches que não possuem biblioteca nem espaço físico, tenham seu acervo e encantem as crianças com a leitura de seus livros.

Outro diferencial é a autonomia que a coordenadora e equipe têm no desenvolvimento de ações inovadoras, na busca de novos parceiros e a disponibilidade de participar de cursos, encontros, seminários que ampliam seus horizontes e enriquecem sua competência profissional.

RNBC: Qual o maior desafio/dificuldade para ter uma biblioteca comunitária cheia de leitores?

Solange: No caminhar dos anos descobrimos pequenos segredos que minimizaram as dificuldades. Ambiente colorido, espaços confortáveis como sofás, tapetes, almofadas, as crianças com autonomia e conhecimento para buscar os livros nas estantes.

Trazer escritores para bater papo (as crianças achavam que os livros nas prateleiras foram escritos por pessoas que já morreram). Trazer contadores de estórias, ilustradores, músicos, fazer dramatizações, enfim, tornar o espaço dinâmico e alegre. Dar liberdade aos leitores de ‘curtir’ esse espaço especial.

O fato de o Instituto Ramacrisna ter recursos próprios para a manutenção básica da Biblioteca é determinante para continuidade das ações.

RNBC: Uma dica para quem está abrindo uma biblioteca comunitária hoje:

Solange: Crie uma rede de amigos, compartilhe, articule, mobilize. Conquiste o leitor, permita que ele se aposse do espaço, viva a emoção da leitura, compartilhe com a família e amigos esses momentos mágicos. Torne o local bonito, alegre, compartilhado. Isso não quer dizer riqueza, grande investimento, mas criatividade.

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Para manter esse ritmo, o ECNB está atento aos editais para
financiamento de projetos culturais e sociais, recebe
apoio de pessoas e tem um time de voluntários.
Eles são maioria entre as 35 pessoas envolvidas
diretamente nas atividades. 

O Espaço Cultural Nossa Biblioteca – ECNB, fundada em 1978, tem constituição jurídica própria, tendo a biblioteca comunitária como principal atividade. Mas como o nome diz, os moradores do Guamá, bairro de Belém do Pará, têm a sua disposição muito mais do que um lugar que empresta livros e oferece atividades de leitura. No ECNB é possível dançar, cantar, fazer teatro, música, assistir filmes, participar de debates, conversar com mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ter o corpo pintado pelos Kaiapós e até aprender uma profissão: a de mediador de leitura. Muitas dessas atividades não estão limitadas à sede da instituição, acontecem também fora dela, como a Rua de Leitura, mediações itinerantes e saraus literários.

Entrevistados: Victor Ramos, mediador de leitura, comunicador, professor orientador da cooperativa mirim (4 anos e meio de ECNB) e Mineia Neíta, mediadora de leitura, professora de dança e orientadora da cooperativa mirim (25 anos de ECNB).

RNBC: O que ao longo do tempo foi determinante para a biblioteca se manter atuante e ativa?

Victor e Mineia: O trabalho voluntário, visto que sempre prezamos pelo desenvolvimento e valorização do nosso corpo de voluntariado.

RNBC: Qual o maior desafio/dificuldade para ter uma biblioteca comunitária cheia de leitores?

Victor e Mineia: São vários, dentre eles o constante trabalho de enraizamento na comunidade, tornar o local atrativo, acolhedor e atualizado para novos leitores. Um corpo de colaboradores qualificados para atuar junto ao público que atendemos é também uma de nossas dificuldades, porém estamos conseguindo enfrentá-la por meio de formação e incentivo ao desenvolvimento pessoal de cada voluntário atuante.

RNBC: Uma dica para quem está abrindo uma biblioteca comunitária hoje:

Victor e Mineia: Inicialmente, consiga o apoio da comunidade, desenvolva constantemente este enraizamento, para que a biblioteca nasça com o sentido de pertencimento ao local. O apoio da comunidade gera interesse, carinho e respeito. E, claro, o voluntariado, peça chave para que uma biblioteca permaneça forte e atuante.

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