Gênero literário que tem lugar especial nas estantes de nossas bibliotecas, os Quadrinhos têm um dia comemorativo no Brasil, 30 de janeiro, data da publicação da primeira história em quadrinhos no país: As aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à Corte, do pioneiro artista ítalo-brasileiro Angelo Agostini.
No marco dos 150 anos dessa publicação, conversamos com Marcelo D’Salete, professor, ilustrador e autor de HQ, que ano passado teve duas de suas obras premiadas: Cumbe (Eisner Awards 2018) e Angola Janga (Prêmio Grampo, Prêmio HQMIX e Jabuti 2018).
RNBC – Muitos acreditam que os Quadrinhos têm a função principal de serem ‘entrada’ para a leitura, pelas características de imagens e pouco texto trazerem uma maior facilidade para despertar o interesse do jovem leitor. Como você avalia esse papel atribuído à HQ?
Marcelo D’Salete – Os quadrinhos são um meio, um veículo extremamente complexo e com um potencial enorme para contar narrativas em diferentes formatos e para comunicar ideias, sensações e experiências. Essas são características fortes dos quadrinhos, que os tornam tão complexos quanto à literatura ou o cinema. Não vejo os quadrinhos como sendo uma porta de entrada para a literatura adulta, dita “mais séria”. Os quadrinhos são uma ferramenta muito interessante e dinâmica que lida com imagem e com texto de uma forma rica, que pode tratar de temas muito complexos, seja para o público infantil, jovens e adultos.
Dentro disso, é importante reconhecer que há esta proximidade grande com o público infantil, até porque os jovens, geralmente, aprendem a ler narrativas primeiro por imagens. No entanto, cada vez mais, precisamos mostrar que os quadrinhos trazem uma gama rica de temas para serem trabalhados com diferentes públicos, com o leitor novo e também com o adulto. É importante que os leitores no Brasil percebam isso. Diversas obras estão sendo lançadas ultimamente, uma safra rica de artistas interessantes, não é por outro motivo que estão sendo publicados aqui e também fora do país. Precisamos fazer com que este público esteja conectado com o que está sendo feito de mais contemporâneo em termos de HQ no Brasil.
RNBC – Se você fosse mediador de leitura, de que forma organizaria uma estante de HQs na sua biblioteca, levando em conta um acervo que contemple a diversidade da produção atual?
Marcelo D’Salete – Imagino que é relevante dar destaque a uma produção heterogênea de quadrinhos, sejam nacionais ou internacionais. Precisamos escapar da concepção de quadrinhos geralmente vinculada ao público infantil ou somente a um tipo de produção temática de super-heróis. Quadrinhos são muito mais do que isso. Temos diferentes narrativas sendo contadas na forma de histórias em quadrinhos e não dá para ficarmos restritos apenas a um formato. Embora isso seja o que chama atenção da maioria dos leitores, é primordial expandir esse universo. Nós temos uma produção muito interessante, falando sobre história, temas contemporâneos ou mesmo experimentando novas formas de contar história. Temos uma produção muito rica aqui no Brasil de fanzines com publicações independentes, é importante ter espaço para esse tipo de manifestação, formato e publicação.
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