Neste mês de maio, Cem anos de Solidão, do colombiano Gabriel García Márquez, completou 50 anos. Para estimular a curiosidade de futuros leitores dessa importante obra da literatura mundial, trazemos os depoimentos de integrantes da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias de diferentes lugares, idades e experiências que se apaixonaram pela saga da família Buendía e confirmam o poder mágico da literatura para conectar pessoas e emoções.
“Uma vez li num jornal que os italianos fizeram uma lista de livros impossíveis de serem lidos até o final, dentre eles estava Cem anos de Solidão. Em parte, até concordo, não por ser um livro difícil ou chato, mas porque os labirintos formados no enredo fazem com que você realmente não queira terminar o livro, ele te prende. Para quem espera um livro realista, pois conta a história de uma família, se frustra. Também a frustração chega para quem espera um livro totalmente fantástico. Gabo sabia como ninguém misturar esses dois mundos, talvez porque haja um pouco de fantasia na realidade e vice-versa. Enquanto as coisas fantásticas de Macondo iam acontecendo, eu ficava cada vez mais surpreso e encantado com a forma de descrever tão bem uma cidade fictícia por meio das experiências mágicas da família Buendía.”
“Há tempos eu não chorava lendo um livro. E não foi com a morte de um personagem querido ou com a ida de um deles para a guerra. Chorei com a morte de um dos Buendías mais desprezíveis. Não pelo carinho ao personagem, e sim, pela descrição do encontro com a morte e com a vida. García Márquez nos leva ao encontro com as dicotomias da vida: a dor, o amor, a alegria, a tristeza, a solidão, a união, a loucura, a lucidez, a vida e a morte. Para mim, esse livro representa a melancolia do tempo. Se tem algo que eu vou levar pra sempre é esse trecho: “e então compreenderam que José Arcádio Buendía não estava tão louco como contava a família e sim que era o único que dispusera de lucidez bastante para vislumbrar a verdade de que também o tempo sofria tropeços e acidentes e podia, portanto, se estilhaçar e deixar num quarto uma fração eternizada.”
“Lembro claramente da sensação que tive quando li pela primeira vez a introdução de Cem anos de solidão: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”.
O fascínio e o estranhamento tomaram conta de mim quando descobri Macondo e conheci todas as linhagens dos Buendía: uma família de excêntricos apaixonados pela vida.
Toda vez que leio “Cem anos de solidão”, imediatamente recordo dos “causos familiares”, estórias insólitas que nossas avós, tias e mães juram que aconteceram. As ocorrências extraordinárias, os indivíduos excêntricos que toda família possui e, acima de tudo, o afeto que une os latino-americanos a despeito de todas as turbulências que o convívio familiar contempla.
Quando imagino uma adaptação para o cinema ou série, uma amiga me lembra: Macondo e os Buendía são intraduzíveis, inadaptáveis para qualquer outra plataforma que não seja a do imaginário humano. Eu não sei. Só tenho certeza que toda vez que a rudeza do mundo me fere ou que necessito de respirar novos ares, é para Macondo que eu volto.”
“Contar a história de várias gerações de uma mesma família é um trabalho e tanto que alguns escritores já fizeram e com sucesso. Só que há muito mais do que a história de uma família em Cem Anos de Solidão. Macondo e cada Buendía são a representação do nosso continente e da nossa gente. Está tudo ali: nossa herança colonial e patriarcal, nossas virtudes e nossos defeitos, nossa violência e nossa alegria, nossa perseverança, nosso misticismo, a força das nossas mulheres. É uma viagem maravilhosa para quem tem coragem de mergulhar numa longa história e deixar a imaginação correr solta. Na primeira vez que li, tive que escrever a árvore genealógica para não me perder em meio a tantos Aurelianos e Josés Arcádios, hoje é só pegar na internet. Com certeza é uma dessas obras que nunca lhe deixam, alguns personagens e várias passagens ficam pra sempre na sua memória e têm o poder de transformar. Depois de Cem Anos de Solidão, me senti mais latino-americana que nunca!”