Biblioteca Comunitária

Solano Trindade

Integrante de

BC Solano Trindade – apenas uma pequena versão da história.

Ei ei cara, mergulhe na história, preste muita atenção no que vou falar agora. Chega de ler besteira, chega de babaquice, procure se informar não seja o mestre da burrice.

Nos meados dos anos de 1990, o movimento hip hop ganhava uma nova bandeira de luta em São Paulo. O então repper Betinho, que era membro do grupo Juventude Armada, lançou a música Vamos Ler Um Livro, rap que está presente até hoje na vida de moradores da Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.

Um grupo de jovens que estudava na EMEF Ana Lamberga Zéglio iniciou um movimento de incentivo à leitura no território de Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. A ação se deu por inspiração desse rap. Em pouco tempo o movimento ganhou força no território e contou com a presença de outros coletivos da época: Pastoral da Juventude do Meio Popular; Impacto Punk e Juventude Revolução.

A partir daí, iniciou-se uma campanha para arrecadação de livros, a frequência desses jovens nas escolas para conversar sobre a importância da leitura e composição de letras de rap que abordavam a temática do estudo como formação política e ferramenta de luta.

Os livros arrecadados por meio de doações começaram a circular, pois não havia um espaço físico para o projeto. Em determinado momento ficaram na escola Ana

Lamberga, depois passou pela casa do Betinho, além de terem sidos alojados em garagens das pessoas que faziam parte do projeto.

São tantos que falam merda esse show é um tormento, procure ler um livro, pois é a máquina do tempo, agora milhares de livros estão ao seu alcance, mas você não quer saber, ideia fraca a todo instante. Você só fala besteira não tem autoestima meu irmão procure ler um livro, a fonte da informação.

O Projeto Vamos Ler Um Livro tinha focos específicos: a juventude do território, mais especificamente os estudantes; e o movimento hip hop, principalmente os grupos alocados no território de Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.

Ainda em meados dos anos de 1990 a posse Força Ativa fez um bate papo com estudantes da EMEF Ana Lamberga Zéglio, na época o tema era drogas e mobilização juvenil. Os presentes nesse encontro ficaram encantados com o grupo e de imediato fizeram um convite para que os grupos atuassem no território.

A partir daí aconteceram várias conversas que culminou com a formação do Núcleo Cultural Força Ativa. Uma união de jovens preocupados com a situação precária em que se encontrava a juventude brasileira, sobretudo das periferias.

Inicialmente, o coletivo tinha como bandeira de luta a denúncia do genocídio da juventude preta, o hip hop e a conscientização política e racial. Nesse contexto, o incentivo à leitura ganhou mais força e novas configurações, pois, tratava-se de pensar o ato de ler como ferramenta de politização e luta. Não bastava falar em ler, mas também, o que se lê. E mais ainda, ler para quê?

Nomes como Malcon X, Rosa Luxemburgo e Karl Marx passaram a dominar o cotidiano do grupo, bem como textos sobre ou de autorias dessas personalidades, trabalhando com a concepção de que a leitura teria que está a serviço da transformação, tanto de pessoas e, principalmente transformar a sociedade.

O incentivo à leitura, alguns livros e a biblioteca

O movimento de incentivo à leitura por meio de bate papos nas escolas e no movimento hip hop ocorria a todo vapor. Em plena final de copa do mundo, onde Zidane fazia alegria da galera e metia dois gols na seleção brasileira, os jovens estudavam a história do movimento estudantil. Foi organizado um grupo de estudos, nessa época o Núcleo Cultural Força Ativa estava à frente do projeto, pois os outros coletivos haviam se afastados por divergência ou por fatores internos de organização.

Agora seriam três ações pontuais: os bates papos nas escolas sobre a importância da leitura como ferramenta de luta e transformação; as ações no movimento hip hop e o grupo de estudo que funcionava na EMEF Ana Lamberga Zéglio.

Porém, outra discussão entrou na pauta. Se já tem livros e ideias para incentivo à leitura, onde será o espaço que vai alojar tudo isso. Atentou-se, então, para uma questão que até o momento ainda não estava presente de forma explicita no cotidiano: a falta de uma biblioteca pública na região. Decorre daí a problematização “Como um território de aproximadamente 300 mil habitantes não tem uma biblioteca pública?”

A precarização da vida da população e a consequente falta de políticas básicas escondiam velava essa questão, pois eram tantas as necessidades como transporte público, saúde (não tinha sequer um hospital no território), educação (apesar de existirem muitas escolas, estas funcionavam de forma bem precária e deterioradas), entre outras.

Eis, então, a pauta da biblioteca pública. A partir desse momento passou a ser a bandeira prioritária nesse contexto. Foram vários abaixo assinados, ações culturais, inserções nos debates que ocorriam na região, discussões com aspirantes a parlamentares e membros do governo municipal, entre outras. Em todos os espaços a discussão da necessidade de ter uma biblioteca pública na comunidade era levantada.

Enquanto ocorriam os debates sobre a falta de uma biblioteca pública no território, os livros circulavam de casa em casa. As doações não paravam de chegar, as ações do projeto continuavam, e as caixas de papelão cheias de livros ocupavam espaços da casa de alguém, até os familiares dos jovens pedirem para encontrar outro abrigo.

A luta pela biblioteca pública continua, resultado dela é o fato de o Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes prever na sua composição a biblioteca Maria Firmina dos Reis, porém, apesar da importância desse espaço e o reconhecimento das primeiras pessoas que passaram por lá, a tal biblioteca ainda não representa os anseios dos movimentos, muito menos uma política pública eficaz de acesso ao livro e à leitura, pois a Maria Firmina está atrelada à Fundação Paulistana, uma autarquia que, hoje, serve como cabide de emprego para as bases de vereadores e subprefeitos. Portanto, em 2021, a luta por uma biblioteca pública que seja atrelada à secretaria de cultura e ao Sistema Municipal de Bibliotecas ainda persiste.

As ações ultrapassam o território, as parcerias se ampliam, o sonho de ter um espaço é concretizado.

No final dos anos de 1990 e início de 2000, o então Núcleo Cultural Força Ativa participou de dois projetos desenvolvidos por duas Oscs que foram fundamentais para a continuidade do projeto Vamos Ler um Livro. Uma delas foi a Ação Educativa (https://acaoeducativa.org.br/), geria o projeto Integrar Pela Educação “iniciado em 1999 com uma previsão de três anos para sua realização. Foi elaborado por sete organizações, espalhadas por vários cantos da cidade de São Paulo.” (https://culturaemercado.com.br/integrar-pela-educacao/amp/)

Outra parceria importante para a concretização do projeto foi com a Osc Ibeac. (http://www.ibeac.org.br/) Em 1998 a entidade entrou em contato com os jovens e ofereceu um curso de formação em direitos humanos. Os encontros iniciaram na EMEF Vereadora Ana Lamberga Zéglio, passando, depois, para o espaço onde hoje é a BC Solano Trindade. Esta parceria proporcionou diversas ações formativas, captação de recursos e empréstimos do espaço pela Cohab com a mediação do Ibeac. No início, a ideia era criar um centro de documentação de direitos humanos, mas devido as dificuldades, entre elas, a de gestão, o projeto não foi para frente. Porém, em outubro de 2001 foi inaugurada a BC Solano Trindade em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.

Por que Solano Trindade?

No final dos anos de 1990 pouco se falava de escritores e escritoras pretos e pretas, nas periferias, com raras exceções. Parte dos movimentos sociais que discutiam literatura, quando discutiam, estava pautado na literatura brasileira chamada de clássica e em algumas europeias, denominadas de universal.

Mesmo com poucas iniciativas de alguns movimentos negros e escritores pretos e pretas de literatura, estas não chegavam nas periferias. O hip hop, principalmente por

iniciativas das posses, foi fundamental para que textos, até então, marginalizados, chegassem nos bairros afastados do centro e do universo acadêmico.

Escola de samba Leandro de Itaquera. Numa noite quente militantes dos movimentos negros aguardavam o ônibus de viagem. Foi um evento promovido pela entidade Fala Negão. O destino era o Quilombo de Ivaporanduva, já no final dos anos de 1990. No percurso, a viagem anunciava o carácter cultural do evento. Dentro do ônibus formaram-se pequenos grupos uns debatiam se o certo era falar preto ou negro; outro problematizava se o hip hop era movimento ou cultura; algum pautava o machismo no movimento negro; outros grupos cantavam sambas antigos, recitavam poemas e lembravam da literatura.

No quilombo foi realizado um sarau, além das diversas atividades culturais. Um homem chamado Liberto Trindade recitou poemas impactantes, seguido de outro poeta, Oubi que leu o até então para a maioria dos jovens do coletivo Força Ativa o desconhecido poema Tem Gente com Fome.

As lembranças dessas leituras são muito fortes, identificavam-se algo que ligava os textos recitados com os raps que aquele povo escrevia. Também, a forma com que o poeta apresentado tratava das lutas dos povos pretos e pretas, das questões culturais e raciais foram marcas significativas. Ao retornar para o território, em pouco tempo as pessoas do coletivo já tinham conhecimento de vários textos e da história de Solano Trindade.

A partir daí Solano Trindade passou a fazer parte desse universo e do cotidiano. Agora era comum a presença de livros do poeta do povo nos eventos, troca de ideias nas escolas, debates, leituras etc. Iniciou-se uma busca intensa pela obra do poeta do povo resultando em ampliação do conhecimento e atenção para outras literaturas escritas por pessoas pretas, sobretudo poemas.

Embu das artes, Raquel Trindade, Liberto Trindade, Fala Negão, Oubi Inaê Kibuko, Se tem gente com fome/dá de comer, Eu gosto de Ler Gostando.  Foi o Quilombo de Ivaporanduva quem deu o nome da BC Solano Trindade.

20 anos de ações de incentivo à leitura na quebrada

A história da BC Solano Trindade é caracterizada por encontros e desencontros com diversas instituições, movimentos, escolas e pessoas. Sua trajetória demonstra que o espaço foi constituído coletivamente e, direta e indiretamente, diversos grupos e personalidades influenciaram nessa construção.

É como um jogo de quebra-cabeça ou um brinquedo monta-monta que cada um e cada uma foi encaixando uma parte. Muitos e muitas colocaram seu pedacinho. Do mesmo modo, outras e outros desencaixaram o brinquedo, embaralharam o quebra-cabeça, fazendo com que as coisas desmoronassem, nesse processo de construção e desconstrução outras personagens apareceram para reconstruir.

Foi assim, e ainda é, que a história da BC Solano Trindade se constitui, em movimento de construção e reconstrução, iniciado por aqueles jovens recém-saídos do ensino médio e fundamental que dedicaram uma vida correndo atrás do conhecimento.

É possível dizer que a casa começou a ser construída pelo teto, pois só queriam livros. Depois, no contato com professoras, militantes, estudantes e movimentos descobriram outras demandas. O conhecimento mora nos livros, mas os livros moram em estantes, espaços, água, luz, catalogação, sarau, hip hop com sorvete e por aí vai.

O conhecimento também mora nos corações e mentes, por isso, pessoas e pessoas foram fundamentais nessa construção. Aquela turma de roupa larga, bonés, tranças, cabelo Black só queria uma quebrada que lesse.

Hoje, mais de 20 anos depois, uma bandeira permanece, a biblioteca pública não chegou. De todo modo, percebe-se uma quebrada que lê, não só lê, produz conteúdo, incentiva a leitura. Aquele conhecimento que está nos livros, corações e mentes foi espalhado pelo território por pessoas que de alguma maneira foi atingida pelo bloquinho do brinquedo monta-monta, o quebra-cabeça foi ampliado e Cidade Tiradentes pode ser considerada um mosaico de leitura e literatura. O refrão Vamos Ler Um Livro ainda persiste.

Vamos ler um livro e desafios de uma biblioteca comunitária na quebrada

A vivência e os estudos demonstraram que não basta ter livros. Livros são importantes, porém, são necessárias outras ações para que o ato de ler se realize na totalidade. Além do acesso é importante pensar em atividades que proporcionam à pessoa atribuir significado ao objeto livro e se inserida em uma cultura de convivência com as diversas formas de incentivo.

O acesso diz respeito à aproximação com o objeto livro por meio de compras, doações, empréstimos, permanência em bibliotecas públicas. Mas a formação de leitores e leitoras requer outros movimentos, além deste. Aqui aparecem as atividades, pelas quais se pode atribuir significado aos livros, reconhecer o livro como um objeto que produz e sistematiza conhecimento por meio de histórias, reflexões, etc. Junta-se e estes, as ações formadoras, aquelas que incentivam a prática da leitura. A leitura não é um hábito e sim prática, por isso, requer a criação de momentos que promovam o livro e a leitura de formas prazerosa, crítica, lúdica e permanente.

Nesta perspectiva, nesses 20 anos de existência a BC Solano Trindade tem desenvolvido atividades de promoção do livro e da leitura, a saber: eventos culturais; encontros formativos; e empréstimos de livros.

Dentre os inúmeros eventos culturais se destacam: o Sarau da Resistência Preta; O Slam Letra Preta; e alguns de Hip-Hop.

As principais atividades formativas são: Curso Pensamento Preto Revolucionário; Mediações de Leituras com crianças e jovens de escolas e outras instituições no território; e o Grupo de Estudos.

Cada uma destas atividades tem a sua particularidade e objetivo específico, porém, o que é comum a todas é a promoção do livro e da leitura de acordo com a concepção de formação de leitores e leitoras presente no universo da BC Solano Trindade.

“um coletivo que eu fazia parte”; “aprendi na Cidade Tiradentes”; “a primeira vez que entrei em uma biblioteca foi na Solano”; “comecei com uns carinhas”.

Essas e outras frases são comuns entre algumas pessoas adultas que hoje são professores e professoras; assistentes sociais, entre outras funções importantes que exercem nos movimentos negros, nos equipamentos públicos e em algumas Osc.

O título dessa parte do texto é reticência, pois remete ao processo de construções sócio-histórica que a BC Solano Trindade teve na vida de muitas pessoas, sobretudo da Cidade Tiradentes. Hoje seus quase 10 mil títulos, os diversos eventos culturais e formativos têm a marca de muitas mãos, corações e mentes.

A BC Solano Trindade está na avenida dos Têxteis, 1050, bem no extremo leste de São Paulo, lá na Cidade Tiradentes. A frase do grande Betinho “Agora milhares de livros estão ao seu alcance” é a mais pura realidade. Como a roda da história não para, a BC ocupa espaço nas mídias sociais com dicas de livros e leituras.

O maior desafio da BC Solano Trindade é reunir condições para manter uma programação atualizada e com o foco inicial: promoção do livro e da leitura na quebrada. Mantendo a leitura crítica da realidade e promovendo a cultura preta num árduo processo de luta e denúncia do racismo em conjunto com outras BCs, movimentos literários, sociais e culturais.

 

Autor:

Washington Lopes Góes É membro do Coletivo Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. Tem Especialização em Cultura, Educação e Diversidade Étnico-Racial (USP). Graduado em Letras e Mestre em Educação pela PUC-SP.

 

 

    Dados Gerais

  • Cidade e Estado: São Paulo-SP
  • Endereço: Rua dos Têxteis, 1050 - Cidade Tiradentes
  • Email: bibliosolanotrindade@gmail.com
  • Links: https://www.facebook.com/BibliotecaSolanoTrindadeOficial/ ?> https://www.instagram.com/bibliosolanotrindade/?hl=pt-br ?>
  • Ano de Fundação: 2001
  • Nome e perfil dos fundadores: Washington Lopes Góes Conhecido como Góes é membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. Tem Especialização em Cultura, Educação e Diversidade Étnico-Racial (USP). Graduado em Letras e Mestre em Educação pela PUC-SP. Fabiana Pitanga Conhecida como DJ Bia Sankofa é membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. Compõe o Movimento Cultural da Cidade Tiradentes, integra o Coletivo Ègbé Omìndelè e a Coletiva Oyasis Mulheres Búfalo. É Bacharel em Serviço Social pela PUC-SP. Wellington Lopes Góes É membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. É rapper do grupo Fantasmas Vermelhos, Cientista Social Bacharel e Licenciado pela Puc – SP. Djalma Lopes Góes Conhecido como Nando Comunista é membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. Mestrando em Gestão e Práticas Educacionais pela UNINOVE-SP. Graduado em Ciências Sociais com Licenciatura Plena e Bacharelado pela UNINOVE-SP. Wagner Silva Souza Conhecido como Tito1Fantasma é membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. É rapper do grupo Fantasmas Vermelhos, Educador Social e Bacharel e Direito pela FAZP-SP. David Brehmer Pereira Conhecido como Dudu é membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. É produtor do grupo Fantasmas Vermelhos e Educador Social. Suilan de Sá do Vale É membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e mediadora de leitura e coordenadora da biblioteca comunitária Solano Trindade. É produtora Cultural, Oficineira e Poeta. Integra a Rede Metropolitana de Bibliotecas Comunitárias LiteraSampa, a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) e a equipe do Entre-Redes (RNBC-2021). Gabriela Martins Gomes É membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e mediadora de leitura na biblioteca comunitária Solano Trindade. É Educadora Social e graduanda no curso de Geografia pela USP-SP. Mônica Patrícia Araújo Corrêa Conhecida como Nica é membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. É B-girl, Poeta, Produtora de Eventos e Educadora Social. É graduanda no curso de Filosofia pela UNIFAI-SP. Henrique Nascimento Sertorio É membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. Graduando em Geografia (UNESP) e professor da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Roberth Oliveira Góes É membro do Coletivo de Esquerda Força Ativa e da biblioteca comunitária Solano Trindade. É declamador, modelo e Educador Social.
  • Instituição/Organização vinculada: Coletivo de Esquerda Força Ativa
  • Número de leitores: 3500
  • Número de livros de literatura: 4400
  • Número anual de empréstimos de livros: 1070
  • Principais atividades de mediação de leitura:

    Contexto da Biblioteca

  • Território no qual a biblioteca está localizada:Cidade Tiradentes é um distrito com 15 quilômetros quadrados, situado no extremo leste da Capital paulista. Possui uma população de 235.630 mil habitantes. Abrange 11 bairros e 40.299 domicílios permanentes. É o 13º distrito mais populoso da cidade. Além dos conjuntos habitacionais o território é constituído por loteamentos irregulares, favelas e ocupações, conforme constatou a Secretaria da Coordenação das Subprefeituras (SMSP), cerca de 1.373 pessoas vivem em áreas de risco, sendo grande parte delas moradores de favelas: Casinhas, Maravilhas, Setor G, Souza Ramos, Pontos de Concentração de População de Rua, Gráficos e Vilma Flor são exemplos, sendo que parte dos e das moradoras dessas vilas não estão contabilizados no quantitativo total populacional. É o 8º pior lugar quanto a IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os 96 distritos do município de São Paulo. Também é importante notar que, segundo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), 33,5% dos habitantes se encontram em situação de alta vulnerabilidade social. No caso de Cidade Tiradentes a renda per capita está na média de R$500,00, sendo o pior índice econômico do município de São Paulo.
  • Fundação da biblioteca:
  • Identidade da biblioteca: A BC Solano Trindade é um espaço que tem como trabalho de base a formação política, étnico-racial e atividades literárias com foco na literatura preta e marginalizada. O público é intergeracional, as atividades comtemplam todas as faixas etárias.
  • Enraizamento comunitário: O enraizamento se dá mediante a promoção do acesso ao livro, leitura, literatura, tais quais: grupos de estudos; cursos formativos em política e mediação de leitura; atividades literárias (Slam’s, Saraus, oficinas). O público é intergeracional, as atividades comtemplam todas as faixas etárias.
  • Impactos sociais: Formação de leitores, novos agentes de leitura, escritores, poetas, formação de professores sobre leitura e questões étnico-raciais, fomento de novos grupos culturais de jovens. Quanto a incidência nas políticas públicas as mobilizações nas duas últimas décadas passadas deste século conseguimos a implementação da biblioteca temática em direitos humanos Maria Firmina dos Reis, a Casa Municipal do Hip-Hop Leste e um Centro de Testagem em Aconselhamento de IST/AIDS.

    Personagem da Biblioteca

    Adriana Aparecida Gomes Dourado – Aos 21 anos foi a primeira Mediadora/Agente de Leitura da Biblioteca Comunitária Solano Trindade. Através das atividades e processos formativos ainda quando a BC nem tinha um espaço físico ela se aproximou e fez parte de tudo que era organizado e realizado no território de Cidade Tiradentes pelo até então Núcleo Cultural Força Ativa.
    O curso de formação em direitos humanos oferecido pelo Ibeac e realizado com os jovens proporcionou encontros, além de contribuir para adquirir o empréstimo de um espaço físico. Com essa aproximação e participação, Adriana foi convidada para ser agente de leitura da Biblioteca, que agora deixaria de passar de casa em casa e teria um espaço permanente. Ela não hesitou em aceitar o convite e atuou na BC por 6 anos.
    Junto com ela ainda tinham mais três agentes de leitura: Wellington, Beaves (Rogério) e Joaquim. Adriana ressalva que nunca integrou o Coletivo Força Ativa, mas que na construção e elaboração das atividades, participações nas formações etc., sempre foi muito ativa. Relembra o quão gratificante e importante foi essa experiência, de como era significativo para ela ser uma referência no atendimento a comunidade e ser procurada por saber onde estavam todos os temas que as pessoas procuravam, pois conhecia todo o acervo.
    Pontua que nunca se considerou leitora e que ainda não se considera, mas que esses anos no espaço conseguiu aguçar em ti algumas leituras. E que o espaço não parava… não parava de entrar e sair pessoas. Quando Adriana pensa em momentos marcantes, lembra de amizades que fez e ainda permanece. Lembra de meninas que hoje são mães e que viviam na biblioteca atrás dos livros. Lembra da formação da Cidade Tiradentes, das construções de prédios que não existiam ainda em frente ao espaço, das participações em ocupações e mutirões.
    “A minha mãe fez psicologia e o TCC foi sobre o Grupo de Estudos organizado pelo Força Ativa. No dia da apresentação do seu TCC o Weber (ex-integrante e cofundador da BC) foi lá e cantou a música “Vamos ler um livro”. ”
    “A minha influência trouxe pessoas que não fazia parte do coletivo, mas participava das atividades e acompanhava várias coisas organizadas no espaço. ”
    “Minha irmã também não era uma leitora, mas me acompanhava com frequência na abertura e funcionamento do espaço. Andreza (irmã) leu 7 vezes o livro “Jogo duro” e considera até hoje um dos melhores livros que já leu e que fazia parte do acervo da BC”.
    Hoje aos 40 anos, Adriana pontua que entre as diversas influências que a BC deixou na sua vida, uma das mais marcantes foi a construção da identidade. E, que a convivência com os integrantes e agentes influenciou muito no seu curso acadêmico, mesmo de forma direta ou indireta o espaço preparou e contribuiu para a sua formação.
    Posteriormente a atuação da Agente de Leitura Adriana e seus companheiros Wellington, Beaves, e Joaquim tivemos os e as Agentes de Leitura: Fernandinha, Dudu Bia, Tito, Hudson, Nando, Vanessa, Hélio, Hugo, Shirley, Thalita, Kel, Jéssica, Talita, Jacqueline, Gabriela, Suilan, Mônica, Monique, Fernanda, Élida, Verônica, Linka (Renata).