Biblioteca Comunitária

MANNS

Mulheres Amorosas Necessitadas de Navegar em Sonhos 

– A história que será contada hoje é sobre uma mulher muito guerreira chamada Maria! – disse Adriana, sentada em frente às crianças.

– Já até sei de qual Maria a senhora está falando, tia Adriana! É a Maria, mãe do meu amigo lá da escola. Viu, tia? Eu sei, eu sei… – comentou Antônia, empolgada.

– Não é da avó do seu amigo que a tia está falando, Antônia! Ela está falando da minha namorada, Maria Eduarda, da escola – interrompeu Kayky.

– Até parece que você tem namorada! Ela está falando da minha avó, Maria da Glória… – sugeriu Matheus.

– Nada a ver, Matheus! – Antônia debochou.

– Chegaaaa de adivinhação, gente! – falou tia Adriana. – Estou falando da Maria do Carmo… Posso contar a história dela?

– Prometo que vou ficar quietinha, tia.

Era a Antônia, acomodando-se melhor na cadeira.

– Todos prometem?

– Siiiimmm!

– Então, vamos lá, falar um pouco da trajetória até chegar aqui. Estão preparados?
– Estamos, tia.

 

“Desde sua pouca idade

Sempre sofreu muito com sua realidade.

Irmã mais velha de oito irmãos,

Como tinha que trabalhar, nunca teve muito espaço para educação.

Sem contar que, para ela, eram apresentados vários livros.

Mas na maioria das vezes eles sempre estavam fechados.”

– Nossa, tia, ela não via o livro? Não via o que tinha dentro dele?

– Não, Matheus!

– Nossa, tia, tadinha dela…

 

“Mas ela não desistiu, não!

A menina, então, embarcou em uma viagem

Que hoje resulta em um trabalho lindo,

Que todos admiram como se fosse uma linda paisagem.”

– Que trabalho é esse, tia Adriana?

– Fiquem calmos, que eu vou contar tudinho.

 

“Em 2006, a menina, que não era tão mais menina assim, adoeceu.

Mesmo com a ajuda de sua comunidade e familiares, ela se entristeceu.

As adolescentes, ao verem que Maria estava ficando triste por se sentir sozinha, tiveram uma ideia magnífica:

Todas as tarde elas iam lhe fazer companhia

Juntas, viam novela, Sessão da Tarde e até mesmo Malhação.

Sem contar que elas nunca deixaram de estar com um livro na mão.”

“Em 8 de dezembro de 2006, a família e a comunidade fizeram uma festa-surpresa.

Prepararam um bolo enorme para todos que moravam nas redondezas!
Teve desfile afro e a rua foi fechada de esquina a esquina.

Quando ela se deparou com todas as pessoas que ali estavam para presenteá-la, colocou em sua cabeça: ‘Eu não vou desistir, eu vou continuar!’.

Depois do ocorrido, ela voltou a lutar!”

“Com TNT enfeitado e alguns livros que tinha, despejava tudo em cima de um tapete vermelho no chão.

Maria e sua ex-nora ensinavam às crianças o poder da leitura e da educação!”

“Ela tem uma fada-madrinha que se chama Shirley,

Que embarcou junto com ela nessa aventura.

Shirley sempre caminhou lado a lado.

Mesmo quando algumas coisas davam errado!

Essas duas até hoje ninguém conseguiu parar.”

“O projeto da Maria começou a tomar visibilidade

E viu que estava com bastante responsabilidade.

Estão achando que ela parou?

Não, não, foi aí que ela embarcou!”

“Em um belo dia de chuva, seu marido cobriu todo o seu quintal com uma lona, para um churrasco do time.

Maria aproveitou e a lona bastante usou.

Por um bom tempo, o nome  “Lona Literária” viralizou.

As doações não paravam de chegar.

O coração dela estava cada vez mais a se alegrar!

E sua fada-madrinha estava sempre junto nesse caminhar.”

– Essa fada-madrinha é boa, né, tia?

– Verdade, Kayky, elas são muito amigas!

– Queria muito ter uma amiga dessas…

“Durante esse caminhar de descobertas,

Em 2012, o sonho foi realizado: o projeto “Prazer em Ler” foi finalmente aprovado!
Deixou de ser uma lona literária

Para ser uma biblioteca comunitária.”

– Tia, a senhora está falando dessa biblioteca aqui?

– Claro que não, né, Antônia…?!

– Estou me referindo à história dessa biblioteca, Matheus.

– Nossa, tia! E essa menina, que não podia tocar nos livros, que a senhora falou lá no começo, é quem eu estou pensando?

– E em quem você está pensando, Kayky?

– Na tia Maria…

– Claro que não é ela, né?!

– Antônia, é da tia Maria que estou falando!

– Como assim? A senhora tinha dito Maria do Carmo. O nome da tia Maria é esse?

– Sim, o nome dela é Maria do Carmo da Silva Miranda!

– Tia, eu não sabia. Pensei que fosse só Maria Chocolate.

– Também é esse, Matheus. Ela usa os dois nomes.

– Nossa, que legal! Um dia também quero ter dois nomes.

– Já que esclareci tudo, posso voltar para a história?

– Simmm, tia…

“Dentro de sua biblioteca e em sua comunidade,

Ela viu que o futebol sempre foi muito presente.

Mas, antes do futebol, a leitura sempre vem na frente!

Maria, nos finais de semana, ia para a beira do campo

Com seu tapete e livros para fazer seu cantinho de leitura.

Futebol + Leitura têm que caminhar sempre juntos.”

 

“E, mais uma vez, sua luta teve visibilidade.

Por ter uma sobrinha, uma jovem deficiente, e vendo a luta de sua irmã,
Quando o assunto são crianças deficientes, Maria sempre teve sensibilidade!
Um belo dia, a Ação da Cidadania,

Associação com quem a biblioteca está sempre fazendo atividades,

Ligou para Maria, deveria conversar com a Associação Beneficente dos Professores Públicos do Estado do Rio de Janeiro, a Appai, que viu sua corrida diária e ficou de lhe entregar latas de leite em pó.

Maria parou e pensou em tudo que acontecera…

De como precisará de leite quando adoeceu!”

“Então, Maria decidiu não apenas ajudar jovens com deficiência, mas ajudar também

Aquela avó que está com bastante idade, ou aquela senhora que está acamada.
Enfim, decidiu ajudar pessoas que sofrem qualquer tipo de debilitação.
E mais uma vez teve a criação de um projeto em sua biblioteca:
“Roda de conversa com as MANNS”.

A leitura sempre caminhando… E o leite não fez essa mistura?

Então, é tudo junto e misturado!”

“Em 24 de outubro de 2014 nasceu o bloco de carnaval de rua,

O “Carnaval Literário”, todo ano com um samba diferente,

Os compositores são os jovens da biblioteca,

A bateria é composta por crianças leitoras da biblioteca MANNS, mais conhecida como “Bateria Mirim“.

‘E não é que Futebol + Leitura deu samba?!’ – essa é uma das frases que Maria sempre está falando.”

 

“Em 2016, com a força de fomentar seu trabalho na comunidade

E para ampliar com mais um espaço de leitura,

Convidou e incentivou a ser fundado o espaço “Varanda Literária”, no Parque Adelaide,

Também no bairro de Saracuruna,

Fortalecendo o trabalho de mais de 20 anos.

O poder e a fome por literatura

Aumentaram aqui em Saracuruna.”

 

– Alguém sabe o significado do nome de nossa biblioteca? – perguntou Adriana, com um sorriso.

– Ihhhh, tia, sei não! – respondeu Antônia.

– Eu também não, acrescentou Kayky.

– E, você, Matheus?

– Não sei não, tia.

– O nome da biblioteca são as iniciais dos nomes de cinco mulheres que tiveram grande influência na vida de Maria:

 

“A letra “m” de Maria Diorias, que também é a letra “m” de Multiplicação;

A letra “a” de  Apolônia, que também é a letra “a” de Amor;

A letra “n” de Nelsina, que também é a letra “n” de Necessidade;

A letra “n” de Nivalda, que também é a letra “n” de Nuvens;

A letra “s” de Selma, que também é a letra “s” de Sonhos.”

– Nossa, tia, que legal! – vibrou Kayky.

– Viram o verdadeiro significado do nome da biblioteca?

– Vi, tia, esse nome deve ter muito poder, né?

– Sim, Antônia, tem muito poder. Essas mulheres são verdadeiras guerreiras.

– Um dia vou ser igual a elas e igual à tia Maria. Ela sempre lutou tanto, né, tia?
– Sim, Matheus. Elas são muito fortes, e a tia Maria idem.

– Verdade! A tia Maria lutou e nunca desistiu.

– Pois é! Eu tenho muito orgulho de minha irmã… Mas, enfim, o que acharam da história, crianças?

– Eu gostei muito, tia! Vou falar para todo mundo que sei a história da minha tia Maria e da biblioteca. – disse Antônia, com um sorriso largo.

– É mesmo, tia. Hoje percebi o quanto nossa biblioteca tem poder.

– Muito mesmo, Matheus… Fico feliz por terem gostado.

 Leydmilla Alves da Silva, mediadora de leitura na Biblioteca Comunitária MANNS, sistematizadora, escritora e integrante da Tecendo Uma Rede de Leitura.

 

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