Biblioteca Comunitária

Educ Guri

Integrante de

À Sombra da Mangueira

Professora – Bom dia, gente! Na aula de hoje vamos conhecer um pouco do nosso bairro!
Vocês sabem por que o bairro tem o nome Mangueira?
Majory – Professora, minha avó me disse que era porque aqui tinha uma mangueira bem antiga, e eu escutei, lá na biblioteca, que é porque aqui havia várias mangueiras, e o povo vivia chupando manga, aí ficou o nome do bairro.
Professora – Muito bem, Majory. Aqui era uma área de diversos engenhos e várzeas, com mangueiras na área. A população começou a fazer os aterros e a ocupar os espaços… Como tarefa de casa, cada um terá que escolher um cantinho que mais gosta na comunidade e fotografar, entrevistar as pessoas para conhecer a história do lugar escolhido.
Alana escolheu falar sobre a torre do Zeppelin, que fica nas redondezas, no Parque Científico e Cultural do Jequiá, por conta do seu avô, que contava para ela essa história. Já Cecília resolveu contar a história do Campo do Piolho, onde gostava de jogar bola com suas amigas. Joana optou pela estação do metrô da Mangueira, porque gostava de passear lá com a tia. Paulinho sobre as bandas de rock e grupos culturais da comunidade, pois gostava de ir às apresentações com o seu irmão. Lavínia escolheu falar da Praça do ABC, onde foi plantado um baobá e onde tem festividades sobre ancestralidade, que gosta de ir para brincar com a mãe.
Majory não teve dúvida: escolheu como lugar a Biblioteca Comunitária Educ Guri, que na época ficava localizada na rua João Leite, no Bairro da Mangueira. Ela frequenta o lugar havia bastante tempo e adorava ir com as amigas. Indica livros que já leu e gosta de estimular as colegas a ler.
Ao chegar à biblioteca, contou para Sthefano, mediador de leitura e articulador, que tinha um trabalho da escola interessante para ser feito.
Sthefano – Tudo bem, Majory! Como posso te ajudar? Queres ler alguma coisa hoje?
Majory – Não, não. Hoje não! A professora nos pediu para fotografar e entrevistar sobre o lugar que achamos mais importante na comunidade. E escolhi a Biblioteca Educ Guri.
Sthefano – Eita, Majory! Que coisa boa. Fico feliz! Por onde quer começar?
Majory – Vamos falar primeiro como surgiu a biblioteca, tio…

Cícera, mediadora de leitura da biblioteca, chegou bem na hora.

Sthefano – Prooonto! Olha a Cícera aí. Ela está desde o início, é a melhor pessoa para falar sobre isso, visse?!
Cícera – Sobre o quê?
Sthefano – Está querendo saber como surgiu a biblioteca.
Majory – É para um trabalho da escola, tia. A professora pediu para a gente falar sobre um lugar que a gente gosta. E eu escolhi a biblioteca.
Cícera – Eita! Que massa. Vamos lá… A história começa quando Sandro, que é o gestor da biblioteca, e eu organizamos a Feira de Arte e Cultura da Mangueira, que trabalhava com formação, cultura e comercialização. Ainda não era biblioteca, era apenas a Associação Educ Guri.
Majory – De onde vem o nome Educ Guri, tia?
Cícera – O nome vem de um amigo de Sandro do Rio Grande do Sul, que o chamava de “guri”. E como Sandro é professor, o seu amigo dizia para ele assim: “Eduque, guri, eduque”. O nome vem daí, uma homenagem ao amigo de Sandro, por isso ficou o nome “Educ Guri”.
Majory – Que arretado, tia!
Cícera – Na associação, a gente trabalhava em favor do meio ambiente daqui da Mangueira. Surgiu a ideia de fundar um grupo de escoteiros. Então montamos o 9º Grupo de Escoteiros Educ Guri. Na época, tinham colaborado conosco Valéria, Sergio, Adna e mais algumas pessoas envolvidas na associação.

Majory – Mas tia! E a biblioteca? Como foi que vocês conseguiram tantos livros?
Cícera – Como trabalhávamos com várias crianças, outras instituições e amigos do bairro começaram a doar livros para fazermos atividades. Sentimos que era hora de mudar de local para abrigar os livros, com espaço de leitura em que as crianças pudessem ler e fazer pesquisas. Além de ser espaço comunitário em que a população se sentisse integrada para reuniões, formações, oficinas e encontros. Aí chegamos ao espaço da rua João Leite.
Mas havia um problema: eram livros didáticos do universo escolar, antigos, sem condições de uso. Ficamos preocupados e nenhuma solução se apresentava. Certo dia, na reunião do grupo de motociclistas Preakeiros, do qual Sandro fazia parte, ele conversou com um velho amigo, diretor do grupo e professor de Química, chamado Hilton. Estava precisando de voluntários para atuar no espaço de leitura da associação. Na hora o professor topou falar com os estudantes da escola em que ele trabalhava.

Sthefano – Nessa parte eu tô ligado, Cícera! Ele chegou para nos falar com muita empolgação. Ficamos tão curiosos para conhecer o espaço, que na mesma semana viemos visitá-lo!

Cícera – É isso mesmo! Não perderam tempo.

Majory – O senhor tinha quantos anos, tio?

Sthefano – Ah, Majory, estava com 18 anos de idade. Viemos cinco amigos. Um grupo bem interessante: além de mim, Eliel, Malu, Larissa e Ketlyn. Nunca tínhamos visto um caos tão rico em possibilidades como aquele…! Tudo era uma bagunça: livros amontoados em estantes desengonçadas, toda sorte de baratas e ratos indo e vindo entre os livros, uma enorme fazenda de traças. Mas algo nos cativou – no meio de todo o caos estavam livros belíssimos, precisávamos dar visibilidade a eles. Foi o que fizemos.

Cícera – Foi mesmo. Aí marcamos em um final de semana e nos reunimos para um mutirão de organização do espaço.

Sthefano – Apesar de muito trabalho foi um dia muito divertido. Organizamos os livros nas estantes e separamos os de literatura. Foi uma ótima oportunidade de colocarmos em prática os conhecimentos das aulas de Português.

Cícera – Depois disso tudo o espaço começou a ficar com cara de biblioteca, e o grupo de estudantes atuou voluntariamente um ano inteiro.

Sthefano – Foi muito bom porque nos permitiu aprender diversas coisas, sobre vários assuntos. Estudávamos e depois da escola íamos para a biblioteca.

Cícera – Depois, nesse tempo, algumas pessoas do grupo começaram a ter outros compromissos.

Sthefano – O grupo, que antes contava com cinco pessoas, passou a ter apenas duas, e no final de 2012 só uma.

Cícera – Que era Sthefano!

Sthefano – Mas nem tudo foram flores. Eu estava me preparando para sair, quando recebo em janeiro de 2013 um telefonema. Era Sandro me dizendo que a Releitura queria conversar. Sandro já vinha tentando se articular com a Rede havia um tempo, mas a conversa aconteceu finalmente.

Cícera – Estávamos querendo com certeza entrar para a Rede. Conhecíamos a história e a trajetória do grupo.

Sthefano – E lá fui eu representando a biblioteca.

Majory – O senhor ficou nervoso?

Sthefano – Fiquei bastante nervoso. Estava prestes a conhecer pessoas incríveis e que liam bastante literatura. Tudo correu bem. A biblioteca foi bem recebida e acolhida no grande grupo. As histórias que ouvi e as conversas que tive, naquele dia especial, deram um novo rumo à minha vida e às ações da biblioteca. Entramos!

Cícera – A Releitura veio com uma bagagem bem longa. Ela nos direcionou, nos trouxe conhecimentos sobre o que é uma biblioteca viva. E várias formações com Erica Verçosa, assessora do Programa Prazer em Ler, Rodrigo Fisher, antigo articulador da Releitura, e diversas mediações de leituras. E a assessoria de Camila Leite, do Programa Prazer em Ler, reuniões no Centro de Cultura Luiz Freire de caráter formativo, tudo isso se deu a partir da Releitura. Todo o processo formativo não foi só bom para a biblioteca, mas para mim, pois criou memórias. Na Rede, o processo formativo se dá pela experiência, pela vivência. Já éramos leitores, mas a Rede veio ampliar novas leituras.

Sthefano – Começamos a ter uma programação e criamos um novo olhar sobre o acervo. Desfizemo-nos dos livros didáticos, mas um medo rondava: como preencher os espaços vazios?

Cícera – Foi aí que recebemos uma importante doação de livros infantis da autora e ilustradora Rosinha Campos. A doação deu um upgrade em nosso acervo.

Majory – O que é um upgrade?

Cícera – Upgrade é uma melhoria, Marjorie.

Sthefano – E assim chegamos à biblioteca que você conhece… Com mediações de leitura, contação de histórias, sessões de cinema, rodas de leitura, brincadeiras de rua, reuniões com a comunidade…

Cícera – E atividades com as escolas públicas e as escolas privadas da comunidade.

Sthefano – À sombra da Mangueira brotaram vários leitores e leitoras…

Cícera – Adora vir para cá, não é?

Majory – Gosto muito, tia. Para mim, a literatura me tira do celular, de outras coisas que me deixam em casa. Gosto muito de livros de aventura e terror.

Sthefano – Você é uma ótima mediadora de leitura, indica livros para as crianças e está sempre trazendo novas leitoras.

Cícera – Posso te dizer uma coisa? Vamos sair do espaço aqui da rua João Leite.

Majory – E vão para onde?!

Cícera – Calma! Vamos nos mudar para a rua Mandari, 209.

Sthefano – Achou que iria fechar, não é?!

Majory – Se a biblioteca fechasse, tentaria reabri-la, batalhando. Porque a literatura é importante, e se fechasse iria ser bem triste para mim…

Sthefano – Que bom ouvir isso, Marjorie. Deixou-nos lisonjeados!

Cícera – Pois é, chega me emocionei! Nós agradecemos por nos escolher para contar nossa história.

Sthefano – Obrigado, qualquer coisa a gente está por aqui!

Em 2019, a Biblioteca Comunitária Educ Guri mudou de endereço. Continua promovendo uma série de atividades no novo espaço, rua Mandari, 209, na mesma comunidade da Mangueira, zona oeste do Recife. O objetivo das atividades é dar continuidade ao enraizamento comunitário iniciado no território no antigo endereço. Durante esse período, na casa nova, houve ações como mediações de leituras, contações de histórias, exibições de filmes, oficinas, encontro com escolas parceiras do bairro…

O desejo de todos que fazem parte da Educ Guri é que a comunidade participe cada vez mais, ocupando a biblioteca e colaborando em sua gestão. A biblioteca comunitária sonha com um mundo melhor, mais justo e inclusivo.

Autores:
Tarcísio Camêlo, jornalista, educador social e defensor dos direitos humanos. Atua na produção de conteúdos documentais e ficcionais e na incidência política para comunicação comunitária, comunicação pública e independente. É comunicador da Releitura-PE.

Sthefano Santana, Graduando em Pedagogia, mediador de leitura da Biblioteca Comunitária Educ Guri, articulador da Releitura.

Cícera Moura, Formada em Geografia e Serviço Social, pós-graduada em Psicopedagogia Institucional e pós-graduanda em Políticas Públicas. Articuladora e mediadora de leitura da Biblioteca Comunitária Educ Guri.

    Contexto da Biblioteca

  • Território no qual a biblioteca está localizada:Mangueira, zona oeste do Recife.
  • Fundação da biblioteca: 2003
  • Identidade da biblioteca: Espaço jovem na Rede. Desde 2013 trabalha para constituir a identidade do seu acervo e do próprio espaço. A biblioteca se reconhece como espaço acolhedor, com acervo que busca contemplar a diversidade dos leitores do bairro.
  • Enraizamento comunitário: O espaço e seus mediadores atuam na comunidade com algumas ações para mobilizar moradoras e moradores. Os esforços geram bons frutos: o Conversa Afiada, ação de autocuidado e escuta com as mulheres do entorno, segue para uma segunda edição e destaca-se como ação mobilizadora qualitativa. Também destacamos a importância  da realização do cine literário e a Semana da comunidade como atividades fundamentais para o fortalecimento do enraizamento comunitário
  • Impactos sociais: Impacta o bairro de maneira extremamente positiva. A partir do momento que o espaço entra para a rotina da comunidade como tão essencial quanto um açougue ou mercado, é nítido que influencia a vivência da comunidade.

    Personagem da Biblioteca

    Majory, dez anos, é leitora da Biblioteca Comunitária desde 2017 e adora ir lá com amigas. Indica livros que já leu e gosta de estimular as colegas a ler. Seus gêneros de livros preferidos são de aventura e terror.

    Além de estar sempre provocando novas leitoras e leitores a frequentar o espaço da Educ Guri, Majory colabora nas oficinas de artesanato para outras crianças no período de férias escolares, ajudando com ações de enraizamento comunitário na comunidade.