O Soldado e a Rosa
Em determinado tempo havia um certo soldado.
Um “Soldado” que sonhava com um mundo melhor.
No qual fosse possível encontrar a PAZ e a FELICIDADE.
Sendo o primeiro filho de uma família de dez irmãos, muito cedo percebeu que a felicidade morava distante, e seria preciso grande esforço para alcançá-la. Viveu com os irmãos uma infância com dificuldades, e ainda garoto aprendeu a guerrear pela vida. E assim, o garoto guerreiro um jovem soldado da Força Aérea se tornou.
Em suas andanças nas comunidades cristãs, esse “Soldado”, ainda na juventude, foi líder do grupo jovem católico em âmbito Diocesano, descobriu o valor da vida na experiência Divina, da amizade, e mais tarde no amor de uma família…
Ah, então achou a felicidade!
Talvez sim, talvez não… Depende de cada ser, de cada alma, de cada olhar único para seu semelhante.
Afinal, como ser feliz vendo os que sofrem na pele as dores das desigualdades sociais?! Como ser feliz percebendo ao redor jovens sem sonhos e perspectivas de um futuro?! Adolescentes que tiveram a vida ceifada antes de se tornarem jovens?! Onde viveria a arredia felicidade? O mundo era enxergado desse modo pelo “Soldado Sonhador”.
A paz e a felicidade, concluiu, devem ser construídas pelas mãos dos que pensam e agem com justiça, dignidade e solidariedade. Entendeu a felicidade como sentimento a ser cultivado na sociedade. Portanto, era fundamental preparar a terra e lançar as sementes. Com a vontade de agir, no sonho nasceu um grande desafio: combater o bom combate!
Mas na guerra todo soldado precisa de uma boa arma.
Entre muitas outras, escolheu a melhor que poderia encontrar… uma rosa!
Mas não foi uma rosa qualquer. Foi uma “Rosa Garrido”, espécie única de aparência frágil, mas com personalidade forte e… cúmplice do soldado.
Sim, cúmplice!
Ele confidenciou o sonho para Rosa. Disse-lhe que entraria no combate apenas se ela estivesse ao seu lado. Aceitou prontamente.
Junto com a Rosa veio a força que faltava para colocar o plano em ação. Soldado e Rosa se propuseram e se puseram a combater o bom combate.
E assim tudo começou: um Soldado, uma Rosa e um sonho.
Rosa, filha dedicada, educação cristã, professora, recém-formada em Serviço Social, sensível às causas da comunidade, voluntariamente dedicou parte de seu tempo a trabalhos na área de educação na instituição da qual foi fundadora.
1994 marca o início do sonho.
Escolheram um local na instituição. O Soldado levou parte de seu acervo pessoal, juntou a outras doações arrecadadas pela Rosa. E organizaram uma sala de estudos. Aos poucos juntaram-se vários tipos de livros: didáticos, de pesquisas e alguns poucos literários. A comunidade foi convidada a conhecer a sala de leitura e a garotada incentivada a participar.
Pronto! Uma parte do sonho já iniciado.
As crianças e jovens da comunidade teriam acesso aos livros, adquirindo conhecimentos por meio de pesquisas e motivações voltadas ao estudo. Com incentivo à leitura, oportunidade de participar de oficinas temáticas voltadas à compreensão da realidade e possibilidades de mudanças. O início do que se tornaria uma biblioteca comunitária.
Talvez o primeiro passo em direção à formação de uma sociedade mais justa e igualitária. Surgiu a esperança de fazer com que as demais pessoas encontrassem a FELICIDADE!
Tudo estava acontecendo… “Soldado e a Rosa” com muito trabalho e dedicação.
Infelizmente, em 2007, no percurso do combate, o “Soldado” se foi…
E Rosa Garrido ferida e triste ficou. E o sonho acabou em solidão…?
Não!
Apesar da perda, Rosa continuou carregada de força e perseverança. Quando disse SIM ao seu Soldado, sem perceber aceitara o bom combate para a própria vida.
Em 2008, Rosa reinventou sonhos, buscou parcerias na comunidade, segurou oportunidades de aprendizado com o Instituto Tear, projetos com voluntários da ICEA, ganhou prêmios, adquiriu novos livros, descobriu a importância do objeto livro ao acesso de todos… A sala já tinha visibilidade na comunidade e passou a ser espaço de leitura.
No trajeto encontrou outros guerreiros com os mesmos ideais. Formaram um coletivo. Em 2011, organizados em rede, conseguiram ser contemplados com o edital do Programa Prazer em Ler, adquirido nos conhecimentos. E sistematizou saberes. Início de um grande desafio: lutar pelo sonho coletivo, levar a leitura literária a todas e todos.
O espaço de leitura recebeu o nome do estimado amigo e se transformou em uma biblioteca comunitária, integrando o coletivo local e nacional. Descobriu uma luta de expansão e conquista em nova vertente dos direitos humanos.
Direito à literatura!
Maria Betânia P. da Silva, idealizadora e fundadora do Espaço Literário Balaio de Leitura, sistematizadora, pedagoga, integrante da Tecendo Uma Rede de Leitura e do C.G. da RNBC. (esposa do Soldado)